O MITO SACI PERERÊ
Cascudo (1976) registra que foi em fins
do século XVIII que se deu a aparição do Saci, vindo do Sul, pelo
Paraguai-Paraná, zona indicada como tendo sido o centro da dispersão dos
Tupi-Guaranis. Outros afirmam que o Saci tenha surgido no século XIX. Concordam,
porém, ao dizer tratar-se de uma evolução de um mito indígena ao qual foram
acrescentadas contribuições de elementos africanos e europeus. Assim,
inicialmente chamar-se-ia Yaci Yaterê e seria um índio de uma só perna. Esse
índio teria ganhado a cor negra como contribuição do africano e o nome de Saci.
Daí teria o português colocado-lhe um gorro vermelho. Entretanto, para alguns, originariamente
o Saci possuía duas pernas perfeitas. De região para região, de tempo em tempo,
o Saci modifica sua aparência. Há relatos de Saci com calção ou mesmo nu, com
duas pernas, de uma só perna ou com uma atrofiada. Câmara Cascudo (1989) faz
sua descrição como sendo: "pequeno negrinho, com uma só perna, carapuça
vermelha na cabeça, que o faz encantado, ágil, astuto, amigo de fumar cachimbo,
de entrançar as crinas dos animais, depois de extenuá-los em correrias, durante
a noite, anuncia-se pelo assobio persistente e misterioso...". Como os
demais mitos, o Saci assume diversas denominações, podendo ser Saci Pererê no
Sul do país, Kaipora no Centro e Matintapereira ou Maty-Taperé ao Norte, além
de Maty, Çaci, Saci, Pererê, Cererê, Saci-Saperê, Saci-trique, Saci-Seperê,
Saci-Taterê. O termo Saci resulta do tupi-guarani “Çaa cy perereg”. Vem do
verbo pererek, pular. Daí a origem do nome Saci Pererê que, por não ter
uma perna, anda aos pulos (revista Galileu, edição 89).As traquinagens
ocorridas, em especial na zona rural, são sempre atribuídas ao Saci. Apaga a
luz do candeeiro, some a criança do berço, queima o arroz, azeda o feijão, faz
desandar a massa do bolo, coloca insetos na comida, troca o sal pelo açúcar. Á
noite dá nó na crina dos cavalos, rouba os ninhos das galinhas, deixa as
porteiras abertas, assobia como o vento nas janelas e nas portas. Também invade
casas, esconde objetos, assusta as crianças e causa insônias.
Monteiro Lobato foi o responsável pela
difusão do Saci Pererê por todo o Brasil. Primeiro, com a proposição de um
debate sobre o Saci, publicado no jornal O Estado de São Paulo e compilado em
forma de livro com o título "O Sacy-Perêrê - Resultado de um
inquérito", em 1918. Com o livro "O Saci", que descreve a
captura de um Saci pelo Pedrinho, Lobato resgata para o mundo infantil o mito e
populariza essa personagem, como uma entidade travessa. Conta que ele nascia em
um local da floresta conhecida como "sacizeiros", constituída de
bambuzais de onde só saia quando completasse 7 anos e vivia até os 77. A partir
da versão televisionada do "Sítio do Pica-pau Amarelo", as
travessuras do Saci Pererê lhe garantiram popularidade em todo o país e fora
dele. 1419 O escritor, chargista e cartunista Ziraldo também criou a turma do
Pererê, com personagens como: o coelho, o macaco, o tatu, o jaboti, a onça, a
coruja, um indiozinho, duas meninas e dois caçadores. O folclore teceu, então,
em torno dessa personalidade, inúmeros recontos, embora muitos deles não sejam
comercialmente publicados. Como outros mitos, suas histórias fazem parte da
tradição oral.
Nenhum comentário:
Postar um comentário