quarta-feira, 25 de abril de 2012




     O MITO SACI PERERÊ

Cascudo (1976) registra que foi em fins do século XVIII que se deu a aparição do Saci, vindo do Sul, pelo Paraguai-Paraná, zona indicada como tendo sido o centro da dispersão dos Tupi-Guaranis. Outros afirmam que o Saci tenha surgido no século XIX. Concordam, porém, ao dizer tratar-se de uma evolução de um mito indígena ao qual foram acrescentadas contribuições de elementos africanos e europeus. Assim, inicialmente chamar-se-ia Yaci Yaterê e seria um índio de uma só perna. Esse índio teria ganhado a cor negra como contribuição do africano e o nome de Saci. Daí teria o português colocado-lhe um gorro vermelho. Entretanto, para alguns, originariamente o Saci possuía duas pernas perfeitas. De região para região, de tempo em tempo, o Saci modifica sua aparência. Há relatos de Saci com calção ou mesmo nu, com duas pernas, de uma só perna ou com uma atrofiada. Câmara Cascudo (1989) faz sua descrição como sendo: "pequeno negrinho, com uma só perna, carapuça vermelha na cabeça, que o faz encantado, ágil, astuto, amigo de fumar cachimbo, de entrançar as crinas dos animais, depois de extenuá-los em correrias, durante a noite, anuncia-se pelo assobio persistente e misterioso...". Como os demais mitos, o Saci assume diversas denominações, podendo ser Saci Pererê no Sul do país, Kaipora no Centro e Matintapereira ou Maty-Taperé ao Norte, além de Maty, Çaci, Saci, Pererê, Cererê, Saci-Saperê, Saci-trique, Saci-Seperê, Saci-Taterê. O termo Saci resulta do tupi-guarani “Çaa cy perereg”. Vem do verbo pererek, pular. Daí a origem do nome Saci Pererê que, por não ter uma perna, anda aos pulos (revista Galileu, edição 89).As traquinagens ocorridas, em especial na zona rural, são sempre atribuídas ao Saci. Apaga a luz do candeeiro, some a criança do berço, queima o arroz, azeda o feijão, faz desandar a massa do bolo, coloca insetos na comida, troca o sal pelo açúcar. Á noite dá nó na crina dos cavalos, rouba os ninhos das galinhas, deixa as porteiras abertas, assobia como o vento nas janelas e nas portas. Também invade casas, esconde objetos, assusta as crianças e causa insônias.
Monteiro Lobato foi o responsável pela difusão do Saci Pererê por todo o Brasil. Primeiro, com a proposição de um debate sobre o Saci, publicado no jornal O Estado de São Paulo e compilado em forma de livro com o título "O Sacy-Perêrê - Resultado de um inquérito", em 1918. Com o livro "O Saci", que descreve a captura de um Saci pelo Pedrinho, Lobato resgata para o mundo infantil o mito e populariza essa personagem, como uma entidade travessa. Conta que ele nascia em um local da floresta conhecida como "sacizeiros", constituída de bambuzais de onde só saia quando completasse 7 anos e vivia até os 77. A partir da versão televisionada do "Sítio do Pica-pau Amarelo", as travessuras do Saci Pererê lhe garantiram popularidade em todo o país e fora dele. 1419 O escritor, chargista e cartunista Ziraldo também criou a turma do Pererê, com personagens como: o coelho, o macaco, o tatu, o jaboti, a onça, a coruja, um indiozinho, duas meninas e dois caçadores. O folclore teceu, então, em torno dessa personalidade, inúmeros recontos, embora muitos deles não sejam comercialmente publicados. Como outros mitos, suas histórias fazem parte da tradição oral.

Nenhum comentário:

Postar um comentário